sábado, 31 de outubro de 2020

verdARTE

conversando com meu irmão, em um almoço, me foram questionadas inúmeras coisas a respeito da minha geração. e aqui vou relatar uma delas:

na mesa estava meu pai (na minha frente), um senhor de 61 anos, proveniente do final dos anos 50 e meu irmão (ao meu lado), nascido no início dos anos 80, com seus 40 anos recém feitos.

e eu, nascida na metade dos anos 90, com a responsabilidade de falar para duas gerações o que a minha geração traz enraizada.

o inicio da conversa se deu em razão de uma publicação que fiz no meu instagram e a indagação do meu irmão em me questionar  sobre a linha tênue entre a realidade da vida em favelas e a apologia as armas que determinadas músicas fazem ao retratar a vida em comunidade.

e aqui início: ao meu ver, a relação entre música/videoclipe e a verdade, deve ser de extrema transparência (cito essas duas pois foram as causas ensejadoras do inicio do debate). a arte, como um todo, tem como papel principal levar aos olhos das pessoas aquilo que elas não enxergam. tudo aquilo que ela traz é, consequentemente, tudo aquilo que existe. e aqui, vale salientar que, não é porque determinada coisa não faz parte do meu mundo que essa coisa deixa de ser relevante. 

toda ação proveniente da sociedade é importante na construção do mundo. e nesse momento entra uma situação delicada: é preciso ter sensibilidade para entender aquilo que a verdade quer nos dizer. e a verdade, nesse contexto, leia como ARTE.

sensibilidade é uma palavra que aquelas duas gerações que me ouviam tinham dificuldades de entender. contudo, essa compreensão é uma das grandes conquistas que minha geração: conseguimos quebrar paradigmas e enxergar as pessoas como alguém com identidade e emoções, taxando como atrasado aquilo que nos foi passado de que o outro é apenas um número ou um concorrente.

a forma que a arte tem de trazer a verdade é feita através de uma narrativa, onde contam histórias, demonstram fatos e questionam problemas. entendendo que, aquele que da a voz ao que esta sendo exposto é alguém singular e, esta pessoa está traduzindo sua própria identidade (raízes, vivencias, realidades, traumas, emoções, vínculos...) ficando mais perceptível aquele ditado de que a gente fala aquilo que a gente vive.

por mais que aquilo que foi exposto pelo artista estava em desacordo com o que a sociedade aprova e entende como correto, aquilo que foi exposto, existe. aquilo é a vida de inúmeras pessoas, aquilo é a verdade de um determinado grupo, aquilo é a representação de que nada é feito para mudar a vida daquela parcela de gente.

e isso é difícil de se fazer entender.  a gente precisar tirar o foco do problema final (que é a apologia ao crime que existe quando uma música fala de armas e drogas) e focar no que aquela música quer mostrar (que é a realidade da vida do pobre). 

e é isso que a arte busca: tirar as vendas, mostrar o real, representar pessoas, cobrar soluções do governo, fazer com que o coletivo conheça um outro mundo e causar impactos.

a preocupação do meu irmão em ver aquilo como incentivo ao crime deveria ser transferida em questionamento de como aquilo poderia ser evitado. onde está a responsabilidade dele em cobrar mudanças, onde está a responsabilidade do governo em proporcionar melhorias, até onde o individual impede de fazer com que as coisas mudem, onde estão os valores que lhe foram passados e até onde ele consegue enxergar fora da bolha social que vive.


encontrem a arte. entendam a arte. respeitam a arte e ouçam a juventude. a voz da experiência tem o hábito de não ouvir mais ninguém e quando a gente se limita à nossa própria verdade, a gente fica preso no tempo. 



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