HC - 0504gtv

queria escrever sobre esse personagem para que um dia, talvez, eu consiga entender o motivo de ter me envolvido.

ele é tudo de errado - acredito que seja por isso que eu me interessei.

é o vilão sabe? aquele que já foi preso, segue a vida fazendo coisas erradas e não tem mais medo de nada - pois tudo de obscuro já lhe ocorreu.

tem aproximadamente um metro e setenta e cinco e um perfume que se mistura com cheiro de cigarro (e parece que nele, essa essência, combina). tem cabelos e olhos escuros e os cílios grandes.

se veste igual um tralha e fala pouco - mas fala alto. é rude, desinteressado e um tanto desconfiado. 

rodou, ostenta 5 anotações na ficha de antecedentes e segue envolvido  - e saber disso me instiga.

ao me ver no baile, consigo notar que os olhos dele sempre me acompanham. e ainda que ele não se aproxime, segue me fitando de longe, procurando meus movimentos e tentando disfarçar a vontade de ficar me observando.

quando dorme comigo, precisa estar sempre encostado e cheirando meu pescoço. se enrola em mim e simplesmente apaga e não liga das luzes estarem acessas - mas também prefere me ter sem claridade.

e ele é assim, seco como esse texto.

de poucas palavras e direito.

eu gosto porque é uma relação de baixa manutenção mas bastante coisa em comum - ainda que não pareça.

HC - 05042023-gtv

a solidez da solidão

vivendo na existência da minha solidão e sendo morada da minha própria companhia - é confortável viver a sós porque aqui ninguém me incomoda. o silêncio da casa e o barulho da rua completam o espaço vazio que as vezes eu lembro que existe. não ter ninguém em casa é me ter só pra mim e, conviver com o  “sozinho” preenche um existir que não me permite dividir o sossego com qualquer experiência.

as vezes me assusto pois não tenho esperanças de encontrar alguém que me faça melhor do que a minha própria plenitude. 

compondo no vazio

assistindo tudo daqui e pensando o quanto deve tá sem graça sem a minha presença. o silêncio da minha ausência só consegue ser confortável aos teus ouvidos quando quebrado pelas notas daquele violão. não existe ninguém que vai saber cantar aquilo que eu te fazia sentir - talvez apenas algumas das suas composições. e ainda que o lugar esteja cheio de gente te aplaudindo, você vai seguir procurando, em meio a plateia, o timbre da minha voz.

vivendo minha imensidão

eu tenho muito medo de não viver os dias.

medo de olhar a vida passar e ficar só assistindo.

medo de não ser protagonista da minha história e de não aproveitar o melhor de mim.

tenho receio de não me permitir experimentar e viver presa no pavor do desconhecido. 

ser livre é tudo que me prende e dialogar com a minha companhia é tudo que me resta.

eu gosto de ser eu e amo ser minha!

sem amarras, sem roteiro e sem destino. 

só ser. estar. tentar. conhecer. experimentar.

habitar em mim e no que tenho de melhor: minha imensidão.

uma carta para a anna do passado

oii anna do passado - mais precisamente aquela que escreveu esse texto no blog no dia 03/08/2012.

vim te contar que hoje, final de 2022, a gente continua naquela confusão.

mais de 10 anos se passaram e ainda não sabemos o que queremos. 

já escolhemos um caminho à seguir, o trilhamos fielmente e no fim, descobrimos que aquilo, na verdade, era o que não queríamos. durante bastante tempo seguimos aquela via com determinação, conforme as metas que, anteriormente, estipulamos, mas achamos um saco.

a gente segue amando surpresas agradáveis e ainda não gostarmos de coisas fora do lugar, mas notamos que não temos perfil para seguir padrões. a gente cansa muito rápido de coisas óbvias e nos movimentamos por meio de inovação. 

não ligamos mais pra planos, hoje enxergamos nas imperfeições da vida a beleza de existir. notamos que viver é uma bagunça e essa é a graça da permanência - ainda que a gente nunca permaneça pois temos pavor de estagnação.

as palavras seguem sendo nossa maior paixão e as letra nos inspiram. a gente continua juntando-as e as traduzindo em ideias, no intuito de ler aquilo que gostaríamos de ouvir. a nossa essência é a escrita e é nela que vivem nossos sonhos. 

acredito que hoje estamos mais próximas do que queríamos (ainda que até agora não tenhamos descoberto o que seja) e seguimos a trajetória contrária daquilo que nos foi mapeada - porque não mais seguimos ordens. 

hoje a gente vive e tenta. e experimenta e experencia todas as possibilidades que a liberdade nos proporciona. porque saber o que queremos nunca foi, de fato, uma necessidade nossa! 

teu nome rima com mentir

esse é o presidente q 

matou mais de meio milhão de inocente 

e ele nem se importa 

pq diz não ser coveiro 

pra se solidarizar com gente morta

fala em nome de deus 

e pelos costumes da família tradicional brasileira 

minha função agora é pegar de volta o que é nosso

e resgatar nossa bandeira 

pátria armada

pátria queimada

pátria largada

desgovernada

desorientada

e desconhecida 

nunca antes na história desse país 

no mundo contemporâneo

se viu tanta gente infeliz 

e transparecendo o desânimo 

nunca antes, sem ser no Brasil atual,

existiu tanta desigualdade e problema social 

fim dos direitos trabalhistas, 

ideias liberais, 

tudo é meritocracia, 

o povo não vive em paz

mal tem o que comer, 

não tem onde morar, 

não sabe pra onde correr,

n tem do q se orgulhar

desordem e retrocesso 

te retratam com perfeição 

a marca que vc deixou na história 

nunca mais apagarão 

o mito que governa pro rico, 

mal sabe o que é plebiscito,

vai pra palanque e paga mico 

faz tudo virar um circo 

e mesmo assim, recebe aplauso e grito 

porta voz do preconceito 

eu em nada te respeito 

jamais foi meu representante 

teu nome sempre que ouço

me remete a ignorante 

jair

mentir

iludir 

enganar

trair

falir 

agredir

roubar

não gosta de gay, de preto, de mulher, 

fala mal de favelado, 

desrespeita a minoria 

e compara vacinado com jacaré  

questiona a ciência, 

contribui pra desinformação.

incentiva o uso de cloroquina 

sem uma comprovação. 

minha vida valia 1 dólar 

naquela negociação, 

a vacina só chegou 

depois de grande destruição

é melhor já ir 

se despedindo!

Nova temporada da história da minha vida

Geralmente a gente sabe quando um novo capitulo da história começa e muitas vezes a gente entende o porquê de ele ter se encerrado. Olhando pra trás consigo identificar quase todos os caminhos que percorri e aonde eles me levaram. Admito, poucas vezes eles foram tão decisivos quanto esse que, recentemente, se iniciou. A última vez que vivi algo assim, foi quando me formei na faculdade e dei um até logo ao mundo acadêmico.  

Muita coisa teve de acontecer para que eu pudesse ter a certeza de que era o fim de mais uma fase. E contando ela como se fosse, de fato, uma história que tivesse no netflix, escolho como trilha sonora de abertura da nova temporada da história da minha vida, a música "perdoa" da AnaVitoria (leia esse texto ouvindo essa música).

E essa nova temporada se iniciou na minha última ida ao Rio de Janeiro, em abril de 2022. Foi lá, o início do fim. Aquela prova de residência jurídica, aquela vontade de viver aquele lugar, aquela ânsia por me encontrar naquilo e todas as luzes daquela cidade. Tudo junto! Tudo em mim. 

Aquele encontro, aquelas conversas, aquelas horas, aquela pessoa. Aquele gol do Fluminense. Aquele uber, aquela chuva, aquela noite de pedra do sal, aquela movimentação, aquela distância e aquele tempo perdido no trânsito. 

Aqueles dias nublados, aquela porta que não fechava sem chave, aquele silêncio do prédio, aquele barulho de sirene. Aquela ida até o mercado, aquelas buzinas ensurdecedoras, aquele olhar triste do morador de rua e aquela confusão para conseguir atravessar a hora. 

Por óbvio, não era meu lugar! Não por ora. Toda aquela bagunça não me era nada atrativo. 

Vivi um Rio que não conhecia e voltei pra casa decidida: viver a dois. Viver a vida na companhia diária de um outro alguém. Ceder a possibilidade de viver sozinha e ganhar a certeza de nunca mais estar só. Viver o eterno encontro de todas as manhãs e o abraçar quentinho de todas as noites. Dividir as contas, as risadas, as preocupações e as comidas. Ser responsável, ser compreensível, ser boa ouvinte e ter péssima memória. 

Com aquela volta, optei por enxergar meus erros, admitir meus erros, me desculpar pelos meus erros e consertar a relação. Não descartar tudo por conta de um problema solucionável com diálogo. Voltei decidida a andar de mãos dadas no frio de 9 graus que faz em Porto Alegre e dividir o mesmo espaço da cama pra conseguir esquentar a ponta dos dedos dos pés. Voltei determinada a ter uma chave de casa nova e um lugar aconchegante para viver a dois. 

De fato, durante esses últimos 2 anos, ele seguia sendo minha morada. Por mais que eu me perdesse no caminho do nosso encontro, era sempre ali que eu me sentia em casa. E era assim que ele me fazia sentir, dentro do meu lugar do mundo - ainda que eu tivesse a certeza de que esse lugar fosse no RJ -. 

Ele trouxe pro sul toda a beleza do Rio e aquela minha vontade de viver perto do Cristo, sumiu, quando me dei por conta que naquela cidade não existia mais a possibilidade de encontro com ele. Por mais que eu tivesse tentando encontrar alguém que me fizesse querer ficar pra sempre por lá, nada daquela abundância luxuosa fez com que eu me sentisse confortável.

Ele aceitou a minha construção cheia de defeitos e consertou aquilo que vivia quebrando (igual ele faz com as coisas aqui de casa). Ele fez, mais um vez, eu sair da minha zona de conforto e conhecer uma nova forma de encontrar com a vida. Viver em companhia. Pensar em planos divididos. Ter sonhos em comum. Ressignificar o verbo "casar" e substitui-lo pelo substantivo "morada", onde podemos unir a ele a possibilidade de sermos eternamente namorados.

Até que a morte nos separe.

a gente entenda que viver assim seja o melhor para nós.

Início dessa nova temporada: 15/05/2022.